terça-feira, outubro 18, 2011

A água tanto pode ser uma guitarra de indolência



A água tanto pode ser uma guitarra de indolência
Como a agonia violenta de espumantes leões
Mas ela é sempre um ritmo fragrante um odor profundo
da penumbra insurrecta de uma garganta de pólen
Perante o mar a identidade desmorona-se e renova-se
Como se as grandes massas do universo irrompessem
da violência de um segredo de uma pátria insustentável
E quando se ergue como um tumultuoso túmulo
dir-se-ia que se arranca do centro ou que o expulsa
em ímpetos de uma violenta frescura primitiva
E é a sua agonia abundante no esplendor de um brocado
que nos bafeja a fronte e nos limpa o olhar
Mas à luz do poente a água é uma plácida
E melancólica cisterna no seu azul de planeta
e sempre a materna abundância do seu seio
nos reconcilia e retempera como se o seu corpo
fosse a fábula verde que regenera o mundo

António Ramos Rosa

Imagem retirada do Google

1 comentário:

Fatyly disse...

Não conhecia e achei fantástico.

Beijocas