sábado, março 19, 2011

Como poderemos beijar essa boca



Como poderemos beijar essa boca que apenas se anuncia
com a suave tristeza de quem ainda ama as sílabas do sangue
ou a lua cálida das velas?
Essa boca talvez seja apenas uma boca de sombra
e quase uma boca de cal
mas a sua forma ainda é uma margem estremecida
uma erva que respira
sobre a pedra azul da melancolia
Que palavra poderá dar um espaço à sua sede
como uma guitarra que lentamente se acende na noite?
Mas no peito frágil como um pássaro palpita ainda um astro
vibrante como uma haste inclinada pelo vento
Ela acaricia a sua crisálida de areia
como se fosse o corpo amante ou uma palavra preciosa
Não posso desenhar o movimento do seu coração
nem encontrar a palavra que fosse um beijo vacilante mas
O meu pulso no entanto estremece com o rumor de um sangue
que desejaria ser a luz da sua sede

António Ramos Rosa

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Fatyly disse...

Lá descobres estas pérolas...e gostei imenso!

Beijocas

Anónimo disse...

Outra maravilha.

;)

Paula Raposo disse...

"O meu pulso no entanto estremece com o rumor de um sangue
que desejaria ser a luz da sua sede"
Tudo dito...