terça-feira, novembro 03, 2009

Vestígios



Noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas - noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavam
os líquenes das imundas máscaras

hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se

onde se pode - num vocabulário reduzido e
obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir

apesar de tudo
continuamos e repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva - vamos pela febre
dos cedros acima - até que tocamos o místico
arbusto estelar
e
o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial

Al Berto

Foto retirada do Google

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Apesar de tudo nada muda...beijos.

Fatyly disse...

Complicado de aceitar este "conservadorismo emocional" porque há muita coisa que muda, para melhor ou pior, mas muda!
Mas quem sou eu para contrariar Al Berto?:)

Beijos e um bom dia