sexta-feira, setembro 05, 2008

Bucólica e Não



Há sempre poetas para fazer versos à terra,
às plantas, animais, num cheiro de bucólico,
mistura de verduras podres, resinas escorrendo,
flores perfumadas, terra humedecida, e o adocicado
e acre também estrume: é sexo o que cheiram?
Amor o que respiram? As ervas que no vento
se abaixam e se entesam, e o arvoredo erecto,
de ramos balançando mas retesos,
é de si mesmos sem baixar os olhos
ao longo do seu corpo e sem tocar-se
com as mãos- que lhes recordam?
E aqueles nós peludos de musgentos
em troncos. Ou no chão buracos de formigas,
e de si mesmos, fêmeas, que lhes lembram?
É orvalho em flores ou folhas ou nos troncos,
rios e regatos murmurantes- que serão?
Acaso podem ser opacos e leitosos,
Jorrando intermitentes num agudo jacto?
que terra o amor mostra que não seja
o amor que não se abriu ou não saltou,
o amor que não foi feito ou não se deu?

Jorge de Sena

Foto:Razaq Vance

3 comentários:

Isabel Filipe disse...

Não conhecia o poema ...


é bem lindo.


beijinhos e bom fim de semana

Paula Raposo disse...

Boa crítica de Jorge de Sena! Nem seria de esperar melhor vindo do Poeta!! Beijos. Bom fim de semana.

Fatyly disse...

Este poeta tem obras muito "empacotadas" e para mim este poema é exemplo disso, e sinceramente não gostei:(

Beijocas e um bom dia:)