terça-feira, março 04, 2008

Reconhecimento à Loucucura



Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar

José de Almada Negreiros

Foto:Piotr Kowalik

4 comentários:

alien aboard disse...

a loucura aliada à genialidade é sublime, a loucura "per si" é apenas uma grande xatice...olha a verdade é k "d poeta e louco todos temos um pouco"...n há como o negar

Parabéns pla sensibilidade e criteriosa escolha d textos e imagens no teu "belogue" miuda!!

jinhuuuxxx

Paula Raposo disse...

Espectacular este poema de Almada Negreiros. Não conhecia. Beijos

Fatyly disse...

Profundamente triste e muito por descobrir!!!!

Beijocas

Lola disse...

Wind,

A loucura é ser vanguarguarda, é estar à frente da rotina a um passo do Infinito