sexta-feira, março 28, 2008

Os Amigos



No
regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias

tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite

prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-os de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume

ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em remota e resignada ausência

Al Berto

Foto:Manuel Holgado

4 comentários:

peciscas disse...

Um grande e por vezes pouco feliz poeta, que deveria ser muito mais conhecido.

Special K disse...

Para completar o comentário do Peciscas acho que só começou a ficar conhecido depois da morte, mias um...
Bjks

Fatyly disse...

Pelo que já li, de facto este poeta deve ter sido imensamente infeliz!

Beijos

Paula Raposo disse...

Gostei imenso do poema e achei o título fantástico!