segunda-feira, janeiro 14, 2008

Os domingos de Lisboa



Os domingos de Lisboa são domingos
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa a S. Domingos
E à tarde apanhamos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.

As palavras cruzadas, o cinema ou a apa,
E o dia fecha-se com um último arroto.
Mais uma hora ou duas e a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p'ra a cama, onde chego já morto.

E então começam as tuas exigências, as piores!
Quer's por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Mas serás tu a minha «querida esposa»,
Aquela que se me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruína!...

Alexandre O'Neill

Foto:Szincza Szincza

5 comentários:

Alien8 disse...

Wind,

Pronto, pus a leitura em dia. A terminar em grande, em O'Neill, pois claro.

As ilustrações de "Cidade Solidão" e de "Beatriz" são, a meu ver, excepcionais!

Boa semana para ti, e um beijinho.

papagueno disse...

Razão tinha o O'Neill acerca dos domingos de Lisboa; tirando o vai e vem de quem lá trabalha é uma cidade que definha.
Beijinhos

Su disse...

detesto os domingos....mas eu tb detesto tanta coisa....ops mau feitio:)

jocas maradas menina

Mocho Falante disse...

Adoro O'Neil, adoro como das coisas simples da vida consegue extrair textos tão soberbos

beijocas querida Wind

António disse...

Olá, Isabael!
Sempre gostei do O'Neill...não sei bem porquê.
Talvez pela "loucura" que transmite à sua poesia.

Hoje a minha passagem é rápida: tenho andado bastante atarefado com assuntos pessoais que estou a tratar.

Beijinhos