sexta-feira, janeiro 18, 2008

Andava a lua nos céus



Andava a lua nos céus
Com o seu bando de estrelas

Na minha alcova
Ardiam velas
Em candelabros de bronze

Pelo chão em desalinho
Os veludos pareciam
Ondas de sangue e ondas de vinho

Ele, olhava-me cismando;
E eu,
Plácidamente, fumava,
Vendo a lua branca e nua
Que pelos céus caminhava.

Aproximou-se; e em delírio
Procurou avidamente
E avidamente beijou
A minha boca de cravo
Que a beijar se recusou.

Arrastou-me para ele,
E encostado ao meu ombro
Falou-me de um pagem loiro
Que morrera de saudade
À beira-mar, a cantar...

Olhei o céu!

Agora, a lua, fugia,
Entre nuvens que tornavam
A ainda noite sombria.

Deram-se as bocas num beijo,
Um beijo nervoso e lento...
O homem cede ao desejo
Como a nuvem cede ao vento

Vinha longe a madrugada.

Por fim,
Largando esse corpo
Que adormecera cansado
E que eu beijara, loucamente,
Sem sentir,
Bebia vinho, perdidamente
Bebia vinha..., até cair.

António Botto

Foto:Vladimir Labaj

4 comentários:

papagueno disse...

Poema lindo do Botto com uma imagem fabulosa.
Bjks

peciscas disse...

Mais um belo texto com o toque de génio, por vezes um tanto louco, do grande Botto.

Fatyly disse...

O homem cede ao desejo
Como a nuvem cede ao vento
.............
Botto no seu estilo tão único.
A foto...impressiona-me cacos de vidro:(

Um bom dia para ti:)**

Paula Raposo disse...

Não aprecio António Botto, mas tu tornaste bonito o poema com a foto!