sexta-feira, agosto 24, 2007

Papoilas em Julho



Pequenas papoilas, pequenas chamas infernais,
sois inofensivas?
Estremeceis. Não posso tocar-vos.
Ponho as minhas mãos por entre as chamas. Mas nada queima.

E fico exausta quando vos vejo
estremecer assim, pregueadas e rubras como a pele da boca.

Uma boca há pouco ensanguentada.
Pequenas orlas de sangue!

Há nela um fumo que não consigo tocar.
Onde está o vosso ópio, as vossas cápsulas nauseabundas?

Se eu pudesse esvair-me em sangue ou dormir!...
Se a minha boca conseguisse desposar uma tal ferida!

Ou os vossos licores me penetrassem, nesta cápsula de vidro,
trazendo-me a acalmia e o silêncio.

Mas sem cor. Sem nenhuma cor.

Sylvia Plath,in"Crossing the Water",Assírio e Alvim, Portugal, 2000.
Trad. Maria Lourdes Guimarães

Roubado do Papagueno

Foto:Calvato

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Um muito belo poema! Beijos.

SÓNIA P. R. disse...

Bom fim de semana Isabel e um bjinho dos 3.

papagueno disse...

E muito bem roubado. beijinhos