quinta-feira, agosto 16, 2007

Os cinco sentidos



São belas - bem o sei, essas estrelas
Mil cores - divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho amor, olho para elas;
Em toda a natureza
Não vejo outra beleza
Senão a ti - a ti!
Divina - ai! sim, será a voz que afina
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa.
Será; mas eu do rouxinol que trina
Não oiço a melodia,
Nem sinto outra harmonia
Senão a ti - a ti!
Respira - n'aura que entre as flores gira,
Celeste - incenso de perfume agreste.
Sei... não sinto: minha alma não aspira,
Não percebe, não toma
Senão o doce aroma
Que vem de ti - de ti!
Formosos - são os pomos saborosos,
É um mimo - de néctar o racimo:
E eu tenho fome e sede... sequiosos,
Famintos meus desejos
Estão... mas é de beijos,
E só de ti - de ti!
Macia - deve a relva luzidia
Do leito - se por certo em que me deito;
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia
Sentir outras carícias,
Tocar noutras delícias
Senão em ti - em ti!
A ti! ai, a ti só os meus sentidos
Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
Em ti, por ti deliram.
Em ti a minha sorte,
A minha vida em ti;
E quando venha a morte,
Será morrer por ti.

Almeida Garrett

Foto:Oleg Seleznev

6 comentários:

Paula Raposo disse...

Só falta o 6º sentido...beijos.

PintoRibeiro disse...

Bom dia Isabel. Bjinho,

Nero disse...

E todos são poucos.
Cumprimentos.

Su disse...

garrett...sempre

jocas maradas de sentires

papagueno disse...

Olha o grande Almeida Garrett. Eu que gosto tanto esqueço-me sempre que ele também fez poesia.
Beijinhos

Fatyly disse...

Há quanto tempo não lia este poema, já que foi lido no esconde-esconde no meu tempo de estudante, porque na altura era impensável e proibido a escrita com "pomos, relva, tocar noutras delícias" :)))))

Olha foi uma delícia!

Bom dia
Beijocas