sábado, julho 14, 2007

Um céu e nada mais



Um céu e nada mais - que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul - como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
ímplodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais -que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.

Ana Luísa Amaral

Foto:Eric Richmond

5 comentários:

Paula Raposo disse...

Gostei. Um céu e nada mais!

hfm disse...

Uma das poetisas actuais de que eu gosto muito.

Espaços abertos.. disse...

Um céu bréu em que invadem as cores cintilantes das estrelas,resta u céu e nada mais..
Bom fi de semana
Bjs Zita

Unknown disse...

O céu, nunca por nunca, deverá ser o limite...

Um bom fim de semana "vizinha"

Fatyly disse...

Acho este poema um bocado empacotado. Uma grande poetisa, mas este não gostei. Desculpa a minha sinceridade:)))

Beijos