sábado, maio 05, 2007

Quanto de ti, Amor...



Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço
em que de penetrar-te me senti perdido
no ter-te para sempre -
Quanto de ter-te me possui em tudo
o que eu deseje ou veja não pensando em ti
no abraço a que me entrego -
Quanto de entrega é como um rosto aberto,
sem olhos e sem boca, só expressão dorida
de quem é como a morte -
Quanto de morte recebi de ti,
na pura perda de possuir-te em vão
de amor que nos traiu -
Quanta traição existe em possuir-se a gente
sem conhecer que o corpo não conhece
mais que o sentir-se noutro -
Quanto sentir-te e me sentires não foi
senão o encontro eterno que nenhuma imagem
jamais separará -
Quanto de separados viveremos noutros
esse momento que nos mata para
quem não nos seja e só -
Quanto de solidão é este estar-se em tudo
como na auséncia indestrutível que
nos faz ser um no outro -
Quanto de ser-se ou se não ser o outro
é para sempre a única certeza
que nos confina em vida -
Quanto de vida consumimos pura
no horror e na miséria de, possuindo, sermos
a terra que outros pisam -
Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,
recebo gratamente como se recebe
não a morte ou a vida, mas a descoberta
de nada haver onde um de nós não esteja.

Jorge de Sena

Foto:Stanmarek

4 comentários:

Special K disse...

Lindo! beijinho.

PintoRibeiro disse...

Sem paciência mesmo nenhuma para andar aqui, só vim mesmo deixar um bjinho de bom fim de semana.

Paula Raposo disse...

Stanmarek! Sim.
Jorge de Sena. Sim.
Este post é um 'must'. Desculpa Isabel se sou pirosa. Já sabes que sou. Beijos.

Menina Marota disse...

"...Quanto de vida consumimos pura
no horror e na miséria de, possuindo, sermos
a terra que outros pisam -"

Impossivel de comentar Poema tão poderoso! Vi-me e revi-me aqui, em toda a minha alma de Mulher.

Grata pela partilha, fez-me bem ler este poema...

Um beijo e um bom domingo.