terça-feira, abril 03, 2007

A lucidez perigosa



Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

Clarice Lispector, a descoberta do mundo
[poemas que (não) são de Clarice - arranjos em verso de Antônio Damázio]

Foto:Stanmarek

PS:Poema "roubado" descaradamente a * Eli - n' um dia mais *:)

9 comentários:

Special K disse...

Gosto muito das palavras da Clarice.
Mais uma magnífica foto do Stanmarek

Maria Carvalho disse...

Bela foto! Palavras para pensar muito...beijos.

Bernardo Kolbl disse...

Bom dia Wind e um abraço.

Nilson Barcelli disse...

Bem-aventurados os pobres de espírito...?
Um poema que nos convida à reflexão. Gostei de ler.
Beijinhos.

poetaeusou . . . disse...

/
E nem entendo aquilo que entendo
/
jino)
/

Fatyly disse...

Gostei muito e a foto está genial!

Um resto de bom dia!

Beijocas

PintoRibeiro disse...

Se fosse só a lucidez...
Bjinho Isabel,

hfm disse...

Gostei de ler.

VdeAlmeida disse...

Até podem não ser da Clarice, as palavras. Mas nada lhe retira belez.
Beijinho, Wind