quinta-feira, abril 05, 2007

Carta a F.



És tu quem me conduz, és tu quem me alumia,
Para mim não desponta a aurora, não é dia,
Se não vejo os dois sóis azuis do teu olhar.
Deixei-te há pouco mais dum mês, ? mês secular
E nessa noite imensa, ah, digo-te a verdade,
Iluminou-me sempre o luar da saudade.
E nesses montes nus por onde eu tenho andado,
Trágicos vagalhões dum mar petrificado,
Sempre adiante de mim dentre a aridez selvagem,
Vi como um lírio branco erguer-se a tua imagem.
Nunca te abandonei! Nunca me abandonaste!
És o sol e eu a sombra. És a flor e eu a haste.
Na hora em que parti meu coração deixei-o
Na urna virginal desse divino seio,
E o teu sinto-o eu aqui a bater de mansinho
Dentro em meu peito, como uma rola em seu ninho!

Guerra Junqueiro

Foto:Allan Jenkins

7 comentários:

Maria Carvalho disse...

Cheio de romantismo...beijos.

papagueno disse...

Olha o meu querido Guerra Junqueiro, deve ter sido o primeiro poeta e escritor que eu ouvi falar. Lembra-me sempre o meu avô. Saudades da terrinha atrás dos montes onde cresci. Beijinho.

Bernardo Kolbl disse...

Bom dia, abraço,

Fatyly disse...

Gosto tanto!

Beijocas

Angell disse...

Encontro sempre tão belas poesias aqui no teu cantinho! A poesia alimenta a nossa alma de tantos e diferêntes sentimentos. Escritas de outras tantas formas e sentires! :)

bjs!

Fresquinha disse...

Boa Páscoa, Wind !

poetaeusou . . . disse...

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Dei a volta ao mundo, dei a volta à Vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh! a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida,
Canta-me cantigas de me adormentar!...
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in) guerra junqueiro
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bji)
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