sábado, novembro 18, 2006

Clarice Chopin



o infinito se inflama no crepúsculo
aos poucos a tempestande vem entupindo as artérias
de trovões elétricos
e papagaios derreiam o vento de fim de tarde
me chamo tempestade
e o cinza que irei derramar se chama nuvem
e a lágrima que irei esculpir nos telhados
se chama chuva

alguns dias são tão parecidos como hoje
que quase navego na exclamação que provoca em mim
de tanto me exclamar e declamar e declarar minha páixão pelo silêncio
e a nova porta que se fecha
para decupar o declínio de hades em mim
em mim resta a tempestade
a que sou
algema que silencia o filho anti-pródigo
que vai para a prisão de seu eu
em levar as chaves que o prendem
ao pai, a mãe, a irmã, ao irmão
e a todos que sobreviverão
ao dilúvio que virá depois da tempestade

a tempestade é só um escada para o infinito
é só um ramo no bico da pomba branca
é só uma bomba atômica explodindo todo dia dentro do quintal
e toda a vez que explode
colore o o horizonte com novos fantasmas
monges que se vestem de branco
e assinam o atestado de óbito daquele que queima
seu fim na ponta de uma agulha de vagonite
costurando o aborto
na manta de penélope desfazendo os sapatinhos do neném

alguém um dia lembrará
que os irmãos marxs só fizeram catapultar
e quem vôo foi mesmo santos dummont
e que claudio manuel da costa era maior
mesmo de joelhos
do que o teto onde dizem que plantou uma forca
e que gaudino não queimou por brincadeira

algum dia como este dia que se chama tempestade
trará de súbito
uma tara pela vida
que transaremos na chuva infinita de nossas salivas
esbugalhadas em olhos perdidos
e brincaremos de autorama
eu e meu filho e eu e meu pai

ah, são marcelo
como pode dar sua vida por outro homem?
como pode, por ouvir vozes
construir em si algo tão perfeito
como uma catedral de espelhos
que não se refletiam
mas trefletiam todo o amor que tinha para com o outro

ah, são marcelo
por que deus não vive em mim assim?

algum dia como este dia em que a tempestade se encolheu
agora quase às três da tarde
recolhi os cacos de minha existência
e tentei construir um poema
envolto no oitavo cigarro
no sexto andar
no milhão de madalas turvas
que formam o contorno do meu rosto
discipando-se nas trevas de um acorde menor
nas grandes grades mãos
da divina deusa que me interrompe
no piano de caudas do vestido de clarice
chopin.

Rodrigo Souza Leão

Foto:Wind

2 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

a fotografia é de uma deusa.divina.


TU!

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não precisas de comentar...


:)))))

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fica bem....


beijos b e i j o s.

Defensor da Memória disse...

Para muitos de nós a natureza tem a raiva mostrada pelas tempestades como os seres humanos têm para uns com os outros,pois a vida não nos corre como seria o nosso sonho.
Beijinhos