sexta-feira, janeiro 28, 2005

Sortilégio




Eu não sei se é pecado
nem se quero sabê-lo!
(Não se pode viver sobre certas verdades!)
- Quero o seu corpo cansado;
as minhas duras mãos moendo o seu cabelo;
seus olhos gastos de saudades.

Quero-a a meus pés, vencida
do seu amor que a excede,
e, vencida, a vencer o meu limbo de medos.
Perder-me e tê-la perdida
os dois numa só carne, à raiva que nos pede
sejam garras os dedos!
A vida, como lobo,
à nossa roda, corre,
e eu e ela desfeitos num suor primitivo.
Ai! amor como roubo
aos abismos da morte! Ai! morte que se morre
sobre a tortura de estar vivo!

E isto somos nós
a sua sede e eu,
homem demónio e deus dum sonho desvairado!
- Meus irmãos, que é de vós?
Como podes perder, ó Céu, quem te perdeu,
se és tão longe e fechado?


António de Sousa

Foto:Nanã Sousa Dias

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