sábado, janeiro 01, 2005

Cântico Negro


Sobre o lampadário estilhaçado, há um sussurro de
sílabas ou folhas mortas. Outros fragmentos negros
inflamam este delírio:
- Pássaros de cinza, com olhos espantados.

Quando a cerimónia terminar estarei só. Despojado
de tudo, até dos outros. Num circo de pedra,
onde facas de gelo, ferem mais e mais.
Uma marcha fúnebre (um tambor de lata),
será o meu legado.

A noite balbucia, estou desperto.
Ferozmente desperto, ou à beira da loucura.
Não sei quem por mim fala, mas nem um verso
soluça na minha voz. Apenas este corvo
poisado no peito agita as asas
e está vivo e vigilante.

Manuel Filipe

Foto: Wind
Poema: escolha de ognid

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