segunda-feira, dezembro 27, 2004

Na estrada de Sintra




[...]

Na estrada de Sintra ao luar, na tristeza, ante os campos e a noite,
Guiando o Chevrolet emprestado desconsoladamente,
Perco-me na estrada futura, sumo-me na distancia que alcanço,
E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,
Acelero...
Mas o meu coração ficou no monte de pedras, de que me desviei ao fiá-lo sem vê-lo,

À porta do casebre,
O meu coração vazio.
O meu coração insatisfeito.
O meu coração mais humano do que eu, mais exacto que a vida

Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar, ao volante.
Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação,
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez menos perto de mim...

[...]


Álvaro de Campos

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