terça-feira, outubro 26, 2004

Soneto




Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Poquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?

Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.


José Carlos Ary dos Santos

Foto:A Brito

3 comentários:

Anónimo disse...

Querida Wind, tu sabes que adoro Ary dos Santos. Nada posso dizer dele a não ser que é fabuloso em tudo o que escreve! Quanto a este é mais uma lição de vida! "Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora" Sem dúvida!! Beijos. Vive!! M

Henrique Dória disse...

A atracção dos abismos é a suprema atracção. Beijos

Anónimo disse...

bonita fotografia e tb eu me peco pelo poeta...
Luna