domingo, outubro 24, 2004

Desespero



Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero.

José Carlos Ary dos Santos

Foto:Paulo Castro

4 comentários:

wind disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

nao tem foto mas tem um poema lindissimo ,afinal quem somos e qd somos?!teu_olhar

Anónimo disse...

Uma imagem belissima que revela na perfeição o despero, a solidão, e a procura que Ay dos Santos "canta"! Beijos
Maria

lique disse...

Perfeita a conjugação da imagem com o poema de Ary dos Santos. Ary tem para mim um especial significado. As suas palavras são terra e sangue. Algo essencial. beijinhos